segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Poesia Matemática


Às folhas tantas do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia doidamente por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida paralela à dela
até que se encontraram no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenus
"E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética correspondea almas irmãs)
primos entre si.E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando ao sabor do momento e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar constituir um lar,
mais que um lar, um perpendicular.
Convidaram para padrinhoso Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas
para o futuro sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante
e três cones muito engraçadinhos.
E foram felizes até aquele dia em que tudo
vira afinal monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum freqüentador
de círculos concêntricos,viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo, tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade e
tudo que era espúrio passou
a ser moralidade como aliás em qualquer sociedade.

Millôr Fernandes

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